Em "A Missão do Espiritismo" ditado pelo Espírito Ramatis através do médium 'Hercílio Maes'; temos as seguintes revelações sobre a Bíblia.
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PERGUNTA: Que podeis dizer sobre a Bíblia?
RAMATÍS: A Bíblia é um conjunto de antigos livros que descreviam a vida e os costumes de vários povos.
Mais tarde foram agrupados e atribuídos a uma só etnia, conhecida por hebréia.
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PERGUNTA: Seria um tratado científico ou filosófico da antigüidade desses povos?
RAMATÍS: Não; o seu principal valor e fundamento é a revelação religiosa. O Velho Testamento, apesar do seu sentido simbólico e alegórico, somente entendido pelos iniciados da época, é repositório valioso da "revelação".
Esse sentido iniciático perde a nebulosidade com o progresso científico do mundo atual; e a Bíblia parece-nos agora uma história inverossímil e mesmo infantil.
No entanto, quanto à sua época, jamais poderia ser diferente! Mas, à medida que cresce a compreensão humana e a própria ciência do mundo, vai-se desvestindo a revelação bíblica de suas alegorias iniciáticas ajustadas à época em que foi escrita.
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PERGUNTA: Qual a causa da verdadeira ojeriza dos espiritualistas modernos com referência à Bíblia? Principalmente os espíritas?
RAMATÍS: Desde que os espiritualistas creem na influência da hierarquia espiritual sobre a Terra, não podem desprezar a Bíblia, embora não queiram admiti-la como roteiro ou fonte de pesquisas e soluções espirituais.
Apesar de sua linguagem fantasiosa e alegórica, representa o esforço máximo feito pelos Espíritos, no passado, no sentido de se comprovar a glória, o poder e as intenções de Deus.
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PERGUNTA: No entanto, todos os religiosos que adotam a Bíblia consideram-na diretamente revelada da "palavra de Deus"! Que dizeis?
RAMATÍS: Não se pode atribuir ao texto bíblico o caráter vertical da "palavra de Deus"; mas os espíritas sabem que se tratava de mensagens mediúnicas comunicadas por emissários do Alto através de médiuns poderosos, tal como Moisés, Jeremias e outros.
A mentalidade dos povos daquela época e o seu modo de vida exigiram que as revelações não ultrapassassem a sua capacidade de entendimento, tal como acontece hoje, quando o homem moderno domina a terminologia de fluidos, ondas, átomos, energias, radiações, forças mentais e etéricas.
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PERGUNTA: Mas a Bíblia estabelece a sua revelação pela "Voz de Jeová", o que implica em se considerar diretamente do Criador!
RAMATÍS: O povo, muito supersticioso, não estava preparado para aceitar e confiar nos poderes e revelações de almas semelhantes aos seres humanos, o que enfraqueceria bastante a revelação espiritual.
No entanto, a "Voz de Jeová", ou de Deus, seria aceita unanimemente, quer pelo temor, como pela impossibilidade de os hebreus avaliarem a natureza sublime e poderosa do Senhor!
Mas a verdade é que, em seu fundamento, assentam-se todos os esforços posteriores e o êxito no sentido de haver sido compreendida a unidade de Deus, que Moisés depois consolidou no Monte Sinai.
Havia necessidade dos médiuns, na época, atribuírem uma grande autoridade às mensagens recebidas, a fim de serem acreditados pelos seus conterrâneos.
Aliás, a mentalidade humana não mudou muito, pois ainda hoje, nos centros espíritas e terreiros de Umbanda, os médiuns continuam a receber entidades de elevada estirpe sideral, materializando-as de modo a se promiscuírem com as paixões terrenas!
Os homens ainda não se aperceberam de que o ensejo mediúnico não tem por finalidade precípua a produção de milagres, assistência incondicional às tricas do mundo material e resolução de problemas humanos que pedem o discernimento e a iniciativa pessoal.
Ignoram que a presença dos elevados prepostos do Senhor obedece ao programa de libertação espiritual, em vez de contribuição no sentido de maior satisfação nas atividades transitórias da matéria.
Tanto quanto no tempo de Moisés, hoje ainda se explora os desencarnados para solucionarem as consequências nefastas das imprudências humanas!
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PERGUNTA: Acontece que, em face dos costumes tão deformantes na atividade do povo judeu, narrados na Bíblia, ficamos duvidando de sua eleição para o advento de Jesus!
RAMATÍS: Porventura, o vosso país também não foi profetizado como o "Coração do Mundo e Pátria do Evangelho", em face da divulgação profícua do Espiritismo?
No entanto, ainda perdura em seu povo a corrupção moral, vícios degradantes, desarticulação social, infância subvertida, juventude transviada, desleixo administrativo e fanatismos religiosos, conjugados às crises políticas, sociais e econômicas.
Domina o crime nas favelas, o vício de entorpecentes e os desatinos nas épocas carnavalescas; grassa o lenocínio e vulgarizam-se as uniões ilícitas pelo advento tardio do divórcio.
Quando, no futuro, os estudiosos pesquisarem a história do Brasil, eles ficarão surpreendidos da pátria do Evangelho, assim como hoje criticais as epopeias bíblicas dos judeus.
Mas a verdade é que o povo brasileiro, mal grado a sua irresponsabilidade e atentados à moral vigente, constitui-se a base para o sucesso do Evangelho e do Espiritismo!
Vide a obra "Brasil, Coração do Mundo e Pátria. do Evangelho", pelo espírito de Humberto de Campos, através de Chico Xavier.
Sem dúvida, a Bíblia historia a vida do povo judeu com seus costumes e sistemas censuráveis, profundamente diferentes da ética ocidental moderna; no entanto, nenhuma outra nação foi tão obstinada em sua fé para com Deus e tão preocupada com o reinado espiritual da alma.
Ela mereceu a glória do advento de Jesus e a sementeira do Evangelho pela sua fé inquebrantável em Jeová e pela sinceridade na exposição de suas próprias mazelas e costumes.
Nenhum outro povo poderia produzir aqueles pescadores iletrados e camponeses rudes, que saíram pelo mundo a pregar uma nova ética contrária à moral racista e orgulhosa da época.
No entanto, a humanidade atual tão evoluída cientificamente e capaz de fotografar a face oculta da Lua ou semear o espaço de satélites e foguetes interplanetários, ainda não conseguiu assimilar tão alto padrão de fé e a sinceridade dos hebreus no seu amor incondicional a Jeová!
A raça que paraninfou Isaías, João Batista, Timóteo, João Evangelista, Paulo de Tarso, Pedro, Maria de Magdala, Tiago e a plêiade de mártires anônimos trucidados nos circos romanos, embora tenha misturado a vida profana com a divina e atribuído suas insanidades à própria "palavra de Deus", pode ter pregado na Bíblia moral estranha e até aberrativa, mas doou a maior contribuição à humanidade, pois foi o berço do Salvador do Mundo!
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PERGUNTA: Mas é evidente que há na Bíblia relatos escabrosos, que pecam contra boa leitura e até contra a ética judaica de ser o povo escolhido para o advento de Jesus! Que dizeis?
RAMATÍS: Devemos compreender que a Moral tem aspectos relativos; e, por isso, o que era moral no pretérito pode ser imoral no presente.
Não se pode ajuizar a vida de um povo de mais de dois mil anos, aferindo-lhe os valores morais mediante o critério de vosso século.
Em certos povos do Oriente a poligamia ainda é de boa moral, a fim de se ajustar o desequilíbrio que é produto do excesso de nascimentos de mulheres sobre pequena percentagem de homens.
Algumas tribos asiáticas tacham de imoralidade o fato da viúva ocidental sobreviver ao marido falecido, em vez de ser cremada com ele no fogo purificador.
A moral tão sublime e sadia que Jesus pregou em sua época, foi o motivo dele ser crucificado, porque essa moral cristã era considerada subversiva ou debilitante em face da predominância do instinto inferior dos homens da época.
Ademais, em certos casos, a moral moderna também se torna bastante inferior ao critério da moral do passado.
Antigamente, os homens arrancavam um "fio de barba" e o entregavam ao credor como garantia segura de pagamento de suas dívidas; hoje, assinam títulos sob a chancela do Fisco e depois negam-se a pagá-los aos particulares ou bancos.
Ainda depois de protestados em cartório público, os credores sofrem prejuízos. Os esposos consideravam sagrado o casamento, por se tratar de um "contrato-bilateral", cujo rompimento seria uma indignidade e descortesia perante a sociedade; atualmente, o contrato conjugal, para muitos homens e mulheres, não passa de um recurso para saciar apetites ou consolidar fortunas, podendo ser desfeito depois de concretizados os objetivos egocêntricos!
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PERGUNTA: Devemos ignorar propositadamente esses aspectos bíblicos para nós tão deformantes?
RAMATÍS: Não endossamos textos bíblicos ou de quaisquer tratados espiritualistas que possam deformar a "melhor moral" do vosso tempo.
Apenas ressaltamos que apesar de o judeu atribuir a presunções divinas seus próprios equívocos morais, ele os revelou à luz do dia, expondo infantilmente à autópsia pública suas mazelas íntimas, violências fanáticas dos seus líderes, vinganças e subversões do povo exaltado sob a ferocidade dos seus comandantes guerreiros.
Aliás, a diferença entre a moral judaica exposta na Bíblia e a do vosso século, é bem pequena. O judeu expôs em público sua imoralidade, ao passo que a humanidade moderna a esconde habilmente, pois a civilização atual pratica as mais abjetas e vis torpezas, frequentando os templos religiosos e embevecida com a graça divina!
A corrupção crescente, o luxo nababesco e as uniões conjugais modernas que disfarçam cálculos astuciosos; o desregramento precoce, as intrigas internacionais que geram o comércio diabólico da morte e matam os povos "inimigos de Deus", porventura, não merecem a urgente atenção de todos os moralistas modernos?
Jeová protegia as tribos de Israel contra outros povos e satisfazia-se com o "cheiro de sangue dos holocaustos", mas hoje a religião também abençoa canhões, cruzadores e aeronaves de guerra, misturando o Deus do Amor de Jesus com carnificinas bem piores que as descritas na Bíblia.
Porventura, os homens modernos inspiram-se no Diabo, quando despejam bombas sobre os agrupamentos humanos indefesos, tal como em Hiroshima, derretendo milhares de criaturas no fogo atômico?
Evidentemente, eles também recorrem a Deus nas suas sortidas sangrentas, tal qual faziam os judeus com Jeová!
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PERGUNTA: Poderíeis citar alguns exemplos de acontecimentos narrados pela Bíblia e passíveis de censuras?
RAMATÍS: Entre as narrativas elogiosas narradas pela Bíblia, onde se destacam veementes demonstrações de fé e heroísmo do povo hebreu, há histórias bárbaras e ingênuas, que desmentem a intervenção divina e devem ser rejeitadas, porque só correspondiam às épocas primitivas.
Assim, o "Livro dos Reis" exalta o profeta Elias, que sob condenável espírito de vingança manda degolar na beira do rio Kison os sacerdotes de Baal; a desonestidade e traição de Judith e as carnificinas de Davi!
Estranho também é o episódio do profeta Eliseu, quando se dirigia para Bethel e foi vítima da zombaria de um bando de crianças que lhe gritavam: "Sobe, calvo! Sobe, calvo!"
Diz a narrativa bíblica que o profeta enfureceu-se e, num gesto feroz, amaldiçoou as crianças imprudentes e zombeteiras; e em seguida, surgiram duas ursas dos bosques vizinhos e massacraram as quarenta e duas crianças.
Em "Números" (31:1-18), conta-se uma das mais escabrosas e criminosas histórias comandadas pelo próprio Moisés e inspiradas pela vingança de Jeová, que mandou-o armar os guerreiros para assaltarem Midian.
Os prepostos de Moisés escravizaram mulheres e crianças, queimaram-lhes as casas, roubaram-lhes todos os bens e rebanhos, mataram os inválidos e terminaram carregando os tesouros e despojos para a comunidade do povo de Israel.
No entanto, o Velho Testamento afirma que Moisés ainda ficara indignado pelos seus guerreiros pouparem mulheres e crianças na invasão das cidades de Midian.
Enfurecido e inconformado, ele então ordenou, consoante o texto bíblico: "Agora matai todos os machos, ainda os que são crianças; e degolai as mulheres, que tiveram comércio com os homens; mas reservai para vós as meninas e todas as donzelas.
Sem dúvida, nesses trechos colhidos a esmo no Velho Testamento, não se justifica a presença sublime do Senhor, mas é apenas o caráter inferior do homem acicatado pelas suas paixões inferiores!"
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PERGUNTA: Não seria mais aconselhável afastarmos a Bíblia de nossas cogitações, ante os fatos tão censuráveis que ela descreve e depois atribui à própria vontade de Jeová?
RAMATÍS: O espírito do homem não se emancipa pela fuga do que lhe desagrada, mas pelo discernimento do bem e do mal!
O anacoreta ainda não é o cidadão ideal para a moradia celeste e perde para o homem curtido e experimentado na trama da vida turbulenta e perigosa.
Quem tenta salvar sua alma fugindo da vida em comum e do pecado do mundo, é como o náufrago que apanha o único salva-vidas e abandona os companheiros.
Mas o Espiritismo explica satisfatoriamente os motivos das contradições bíblicas entre sua época e o século atual, destacando profundamente a diferença existente entre a personalidade de Moisés e Jesus.
O primeiro foi o fundamento da unificação divina e médium transmissor dos Dez Mandamentos; e o segundo, o mensageiro da verdadeira contextura do Pai Sublime e Justo!
Por isso, Allan Kardec abandonou todos os códigos morais de instrutores, profetas e líderes religiosos do mundo, para firmar a codificação espírita na exclusividade amorosa e sadia do Evangelho de Jesus.
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PERGUNTA: Não podemos olvidar que o espiritualismo de hoje cultua uma ideia de Deus bem mais superior do que o "Jeová" sanguinário dos hebreus. Não é assim?
RAMATÍS: Há dois ou três milênios, era razoável que um povo desprovido da cultura científica do vosso século, desconhecendo a eletricidade, o rádio, a televisão, a cinematografia, o avião a jato, os satélites e foguetes teleguiados, presos à concepção infantil do céu entedioso e do inferno tão melodramático, ainda confundisse o seu instinto belicoso e a sua moral censurável com os preceitos divinos.
Mas, na atualidade, é demasiada cegueira matarem-se os homens invocando o nome de Deus para proteger os seus exércitos simpáticos ou abençoar armas criminosas, destinadas à guerra fratricida.
O povo judeu merece censuras porque agiu estribado no mais ardente excesso de Fé e de submissão ao Criador; no entanto, o homem do século XX pratica os mesmos desatinos e alardeia emancipação espiritual, com a agravante de já ter conhecido Jesus!
Se a vossa civilização pretendesse escrever sua Bíblia, adotando a mesma franqueza e simplicidade infantil com que o povo judeu escreveu a sua, redigiria o mais imoral e bárbaro tratado da história humana, pois relataria mazelas bem piores e ignomínias religiosas praticadas em nome de Deus, de fazerem arrepiar os cabelos.
O nascimento de Jesus entre os israelitas é prova suficiente que esse povo estava credenciado espiritualmente para a glória de ser o berço do Messias e merecer a afeição da humanidade na missão de firmar o rude alicerce do edifício eterno do Cristianismo!
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PERGUNTA: Qual é a relação mais íntima entre a Bíblia e o Espiritismo?
RAMATÍS: É o mesmo sentido de sua revelação espiritual, pois a Bíblia, desbastada das alegorias que tanto desfiguram o entendimento exato da revelação dos espíritos ocultos sob o "Voz de Jeová", apresenta mensagem igual a todos os redutos espiritualistas do mundo.
A "Verdade" transmitida do Alto é uma só e não diverge no decorrer dos tempos; porém, à medida que o homem se esclarece e progride, ele também identifica no âmago de todas as religiões e comunidades espiritualistas a mesma revelação!
Rama, Krishna, Hermes, Zoroastro, Confúcio, Moisés, Maomé, Lao-Tsé, Orfeu, Buda e Jesus revelam na essência dos seus ensinamentos a mesma ideia de Deus e da Vida Imortal!
No entanto, cada mensagem foi revestida do invólucro simpático e adequado a costumes, temperamento, moral, capacidade e objetivo de cada raça ou povo, pois há muita diferença entre a revelação eivada de poesia e aforismos do povo chinês, com a ideia máscula de Allah inspirando a índole agressiva, vitalizante e apaixonada do árabe tostado pelo sol causticante do deserto!
Buda velou os seus ensinamentos sob a casca fina dos aforismos e preceitos ou obrigações; Jesus usou das parábolas para esclarecer os ocidentais!
No entanto, apesar de decorridos tantos séculos, os asiáticos ainda não entenderam o sentido oculto dos aforismos de Buda, nem os ocidentais o pensamento de Jesus oculto nas parábolas.
Ambos os ensinamentos puros do Espírito, foram sufocados pela letra nos templos rígidos e faustosos, para o reinado dos dogmas e das fantasias absurdas!
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PERGUNTA: Como conciliar a narrativa absurda da Gênesis, quando Deus cria o mundo em seis dias, com os milênios de evolução geológica admitida pelos cientistas e espíritas?
RAMATÍS: Apesar da aparente incongruência no relato bíblico da Criação, observa-se uma perfeita ordem e disciplina nos atos de Deus, pois tudo surge gradativamente e cada coisa no seu tempo devido.
Evidentemente, seria flagrante ingenuidade dos críticos do Velho Testamento, ainda suporem que o Gênesis refere-se a "dias" da Criação, quando trata-se de alegoria velando a ideia de "períodos longos" de evolução geológica em sucessão através de muitos milênios.
Na época da revelação o povo não poderia entender o processo da condensação de energia cósmica até formar a matéria, através de fases tão demoradas e sem ponto de apoio mental para configurarem todo o processo criativo.
Aliás, nem se admitia a forma esférica da Terra e a natureza do sistema geocêntrico de Kepler com os demais planetas em torno do Sol, quanto mais admitir-se a contextura atômica e molecular da substância terráquea a evoluir para formas cada vez mais aperfeiçoadas.
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PERGUNTA: Qual a ideia inicial que poderíamos ter de Deus, baseando-nos no Velho Testamento e antes da criação do Universo?
RAMATÍS: Conforme elucida João Evangelista, "no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus".
Através da ação dinâmica do Verbo, conceituado como o pensamento "fora de Deus", a condição abstrata na Mente Divina ou Cósmica, então se revela na figura de "matéria", ou de mundos exteriores, isto é, o pensamento puro de Deus como princípio de todas as coisas e seres.
O Gênesis então relata essa "descida" do Pensamento puro do Onipotente até se exteriorizar na forma de matéria componente do mundo exterior.
"No princípio criou Deus o céu e a Terra; a Terra, porém, era vã e vazia; e as trevas cobriam a face do abismo; e o espírito de Deus era levado sobre as águas", demonstrando que a energia cósmica provinda de Deus ainda estava na forma líquida e a caminho de forjar a substância matéria.
Em seguida, o Criador vai compondo e criando a Terra e a destaca do mar; depois o reino vegetal com as árvores e a sementeira procriadora; depois, os répteis, os peixes, as aves e os animais, cada um segundo sua espécie, porém, numa escala progressiva conforme denuncia a ciência nos diversos períodos de formação planetária.
Finalmente, cria o homem à sua imagem e que presida aos peixes do mar, às aves do céu, às bestas, e a todos os répteis, que se movem em toda a Terra, e domine toda terra.
Após essa enunciação e término da criação propriamente dita, o Senhor abençoou o que fizera, mandando que todos os seres "crescessem e se multiplicassem".
E assim Deus descansou no sétimo dia, isto é, criado o mundo "exterior" emanado de Si Mesmo, deixou que a vida e o progresso das espécies, coisas, seres e homens se fizesse sob o impulso interior de "serem feitos à sua imagem"!
Durante seis dias ou longos períodos geológicos de materialização do mundo físico, o Senhor trabalhou operando na transmutação das energias em substâncias sólidas e na materialização do seu Pensamento Incriado até plasmar a vida planetária com seus reinos mineral, vegetal, animal e hominal.
O descanso de Deus, estágio muito conhecido entre os sucessos do "Dia de Brahama" e "Noite de Brahama", na consecução de cada "Manvantara", significa o período em que toda a criação segue automaticamente o plano ou impulso inicial da Divindade, cumprindo-lhe o pensamento e a vontade criadora.
É o retorno do Espírito fragmentado nas espécies "vivas" na matéria, o "filho pródigo" em busca do lar sideral de onde partiu, um dia, em descenso vibratório até forjar a sua consciência de "ser" e "existir".
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PERGUNTA: Mas em nossas concepções espiritistas somos avessos aos relatos bíblicos sobre Adão e Eva, o primeiro casal, e a incoerência de possuírem apenas dois filhos homens, Caim e Abel, em que o primeiro mata o segundo e não se explica a origem de tantos seres e raças do nosso globo?
RAMATÍS: Não podemos alongar-nos em explicações minuciosas quanto à interferência dos "Construtores Siderais" na criação da Terra, dos seus reinos e da própria linhagem humana.
Mas a verdade é que decorreram muitos milênios até que a face do orbe se mostrasse apropriada à existência humana. O corpo terráqueo forjava-se no seio das substâncias ignescentes e energias telúricas, submetido a toda espécie de reação e ensaio para se transformar na moradia da humanidade "feita à imagem de Deus".
Formam-se os oceanos por força dos vapores inundando a atmosfera e o planeta agita-se instável e confuso, ferido por raios e tempestades, até fixar-se em sua órbita e submeter-se docilmente ao comando do poderoso centro solar.
Finalmente, as condições terráqueas se fizeram eletivas à vida animal, graças à materialização do protoplasma, essência da vida orgânica. Os prepostos de Deus, então, devotaram-se fielmente a organizar as espécies inferiores plasmadas pelo aglutinamento de infusórios e vidas microbianas.
Enquanto transcorriam os milênios no calendário sideral, evoluiu a linhagem animal sob a pressão interna do Espírito compondo sua vestimenta transitória albuminóides, protozoários, unicelulares, que se multiplicam incessantemente sob o calor eletivo das águas, plasmando-se as formas de constituição superior.
Delineia-se a configuração do globo terrestre; surgem os crustáceos marinhos e terrestres e os batráquios, que deixam as águas adaptando-se, pouco a pouco, nos charcos da superfície mais firme.
O cenário terreno, apesar de instável e lodoso, denso e abafado, é entrecortado por incessantes tremores de convulsões provindas do núcleo central.
Era o sexto dia apregoado pelo "Gênesis" e o período terceiro fixado pela Ciência terrena, prosseguindo os ensaios avançados da vida física, quando surgem Adão e Eva, precursores da raça adâmica constituída pelos exilados de um satélite de Capela, da constelação do Cocheiro.
No entanto, há muitos milênios antes desse exílio de "anjos decaídos" do mundo capelino, já viviam na Terra raças descendentes dos lemurianos e atlantes, os primeiros próximos das grandes vias fluviais e outros situados nas encostas de pedras e terrenos vulcânicos.
Em consequência, a Terra já oferecia condições de vida humana no tempo de Adão e Eva porque há milênios ali viviam os remanescentes da velha Atlântida.
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PERGUNTA: Conforme narra a Bíblia, Adão e Eva eram o primeiro casal e pais de dois filhos, Caim e Abel. O primeiro matou o segundo; e no entanto, a Terra depois povoou-se de criaturas dos mais variados tipos. Como se explica isso?
RAMATÍS: A prova de que já existiam habitantes na Terra, quando do exílio dos remanescentes do satélite de Capela para constituírem-se a raça adâmica e tronco original dos árias, pode-se verificar no próprio Gênesis, quando Caim, após ter assassinado Abel, sai pelo mundo sob o estigma do homicídio fraterno.
Diz então o Gênesis: "E Caim, tendo-se retirado de diante da face do Senhor, andou errante pela Terra, e ficou habitando no país que está ao nascente do "Eden".
E conheceu Caim sua mulher, a qual concebeu, e pariu a Henoch. E ele edificou uma cidade, e a chamou Henoch, do nome de seu filho.
Henoch, porém, gerou a Irad e Irad gerou a Maviael, e Maviael gerou a Mathusael, e Mathusael gerou a Lamech." (Gênesis, 4: vs. 16 a 19).
Obviamente, quando Caim matou Abel já existiam outros povos na Terra, remanescentes dos próprios terrícolas, de exilados de Marte e do satélite de Júpiter, todos provindos das civilizações desaparecidas da Atlântida.
Em consequência, o primeiro casal bíblico não passa de alegoria representando o núcleo central dos exilados de Capela. Aliás, contrariando a convicção de alguns religiosos dogmáticos, depois de Caim e Abel, Adão e Eva ainda tiveram outro filho chamado Seth, conforme diz o Gênesis:
"Tornou Adão a conhecer sua mulher; e ela pariu um filho, e lhe pôs o nome de Seth, dizendo: "O Senhor me deu outro filho em lugar de Abel, que Caim matou" (4: v. 25).
Diz ainda o de Adão no dia em que foram criados; Adão, depois que gerou Seth, ainda gerou mais filhos e filhas e viveu durante 930 anos." (Gên., 5: 1 a 5).
Vide a obra "'O Enigma da Atlântida", de Cel. Braghine, cap. III, "As Raças Adâmicas", da obra "A Caminho da Luz", pág. 29, que diz:
"É que, com essas entidades, nasceram no orbe os ascendentes das raças brancas. Em sua maioria, estabeleceram-se na Ásia, de onde atravessaram o istmo de Suez para a África, na região do Egito, encaminhando-se igualmente para a longínqua Atlântida, de que várias regiões da América guardam assinalados vestígios".
Aliás, Os Fenícios, derivados do grego "phoinos" (vermelho) descendiam do povo de Caru, ramo atlântico que isolou-se da raça-mãe, quando houve a ruptura do istmo de Gibraltar.
Essa narrativa identifica perfeitamente que Adão e Eva representavam, na Terra, os "filhos de Deus", ou seja, os "exilados" de Capela.
Haviam desenvolvido a consciência de tal modo, que isso já os classificava como os "filhos de Deus", mas rebeldes, anjos
decaídos e expulsos do Paraíso.
Mas é preciso distinguir os espíritos exilados ou "filhos de
Deus", descidos do céu, dos demais habitantes primitivos que já existiam na Terra e nessa época ficaram sendo conhecidos como os "filhos dos homens"!
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PERGUNTA: Poderíeis dar-nos alguma indicação desse fato na Bíblia, ou em qualquer outra obra espiritualista?
RAMATÍS: Diz o Gênesis: "Como os homens tivessem começado a
multiplicar-se sobre a Terra e tivessem gerado filhas; vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram por suas mulheres as que dentre elas lhes agradaram mais!
Ora, naquele tempo havia gigantes sobre a Terra. Porque depois que os filhos de Deus tiveram comércio com as filhas dos homens, geraram estas filhos que foram uns homens possantes e afamados nos séculos" (Gên., 6: 1 a 4).
Sem dúvida, o próprio Gênesis explica que os espíritos exilados ou adâmicos foram expulsos do paraíso de Capela e casaram-se com as filhas formosas dos "homens da Terra".
Ademais, havia outra raça de gigantes sobre a Terra, ou seja "exilados" de Júpiter e de grande estatura como ainda é possível encontrar-se alguns raros no orbe, mas já enfraquecidos na sua contextura original.
Mas a narrativa bíblica sofre muitos hiatos e truncamentos na sua história original da humanidade, em face de tantas traduções que lhe perturbaram o espírito histórico da realidade, transformando em melodramas siderais aquilo que não passou de ,singelo acontecimento da vida humana!
Foram fatos sem expressões altiloquentes, apenas cingidos às leis comuns e costumes naturais do povo; tudo se procedeu como notícias de imprensa e não sob o aspecto tão cerimonioso ou melodramático, que os historiadores religiosos lhe emprestam no futuro.
Muita coisa clara foi obscurecida e fatos sem importância elevados à conta de acontecimentos incomuns.PERGUNTA: Qual é outra relação em comum da Bíblia com Espiritismo?
RAMATÍS: A mediunidade não foi inventada pelo Espiritismo, pois é tão velha quanto o homem. É uma faculdade oriunda do Espírito e não da matéria.
Em consequência, existe desde que a primeira criatura surgiu na Terra, porque o primeiro homem também era um espírito encarnado. naturalmente, a sua manifestação mais nítida dependeu do apuro dos centros nervosos e da sensibilidade do homem, que depois se transformou num instrumento de ligação entre o mundo oculto e o mundo físico.
E assim, as entidades do mundo invisível iniciaram o seu intercâmbio com a matéria, logo após a sensibilização suficiente do terrícola. A humanidade tem sido guiada desde sua origem por leis do mundo oculto e já comprovadas na face do orbe, graças a essa faculdade mediúnica inata no primeiro espírito encarnado.
Todas as histórias, lendas, narrativas de tradição milenária do vosso orbe estão repletas de acontecimentos, revelações, fenômenos e manifestações extraterrenas, que confirmam a existência da mediunidade entre os homens das raças mais primitivas.
E o Espiritismo, então, encontra na Bíblia um dos mais vigorosos repositórios de fatos que não só provam a existência da mediunidade em tempos tão afastados, como confirmam os fundamentos doutrinários espíritas.
Malgrado a feição diferente e fantasiosa dos milagres que lhe atribuem, a mediunidade é o "élan" do mundo espiritual e a vida carnal. Embora os acontecimentos mediúnicos descritos na Bíblia estejam velados pelo simbolismo da raça hebraica ou pela poesia religiosa, em verdade, eles são fenômenos mediúnicos tão específicos e positivos quanto aqueles que Allan Kardec e outros espíritas enumeraram em estudos, conforme citamos em obra anterior de nossa autoria.
Vide a obra "Mediunidade de Cura", capo I, "A Antiguidade do Fenômeno Mediúnico e Sua Comprovação Bíblica", de Ramatís.